Nery Porto Fabres

A comunicação indo para o beleléu

Por Nery Porto Fabres
Professor

Perdi as contas de quantas vezes deixei de me expressar com inteligência em casos mais variados, de diálogos simples a discussões mais acaloradas.

Normalmente faço isso com frequência. Claro, não por vontade própria, mas por obrigação. Pela necessidade de um relacionamento social em que se precisa defender uma ideia comum à quase todos.

Seja na construção civil, no comércio, nas feiras, em hospitais, supermercados, revendas de automóveis, nas escolas e universidades, etc. Eles, os diálogos, estão lá, por toda a parte.

Adaptar-se ao estilo de falar da grande maioria das pessoas, essa maioria que forma a população, se tornou um trabalho árduo. Tanto é que acabo de usar o pleonasmo, muito utilizado nesses tempos. Não existe grande maioria, é maioria e pronto! Mas, é de bom tom falar grande maioria para ser compreendido.

Sim, o povo gosta disso. E temos de entender de programação da TV aberta, ter conhecimento de times de futebol, saber como funciona o Carnaval, conhecer siglas partidárias... e não para por aí.

Tem-se de exercitar risadas para rir de piadas sem graça. Há de se mostrar simplório e desentendido de artes, de leis, de conceitos básicos de economia.

Quanto mais se quer viver em sociedade, mais se torna necessário o abandono da racionalidade e conhecer a linguagem e costumes populares.

A sociedade se mostra como um sistema orgânico que luta para não evoluir. Inclusive, quer deixar de se comunicar com aqueles indivíduos que leem muito, os quais se mostram muito cultos. Estes são insuportáveis para o modelo atual do indivíduo social.
Para a sociedade maior, basta a televisão transmitindo novelas e os telejornais que só falam a verdade sob o ponto de vista dela. Ah! E o futebol aos sábados à tarde, ou algum programa de auditório alegre e musical.

Também entrar em uma loja de roupas, sem sorrir para o vendedor, é um erro crasso. E chegar a uma revenda de veículos parecendo ser mais idiota que o Mister Bean, é a melhor forma de se sair com o melhor carro.

Enfim, quem não parou para pensar nisso e não mudou o seu discurso para acompanhar a maioria, foi totalmente excluído deste mundo novo.

Imagina entrar na fila dos correios sem falar de política, bom, aí é descuido total.

Chomsky que me perdoe, mas a linguística é algo sem grande interesse social. Irandé Antunes tem razão, costurar com as palavras é a melhor coisa a se fazer, para se comunicar com facilidade com a nossa comunidade linguística. Talvez por estar cada vez mais analfabeta funcional.

Por isso deixei a maré me levar, é muito mais seguro viver sem conhecimento sobre nada. Qualquer assunto se consegue conversar pacificamente, se ignorarmos todas as regras gramaticais, os conceitos linguísticos e toda a codificação mais elevada das mensagens.

Tanto isso faz sentido, que já estou pesquisando os nomes dos participantes do Big Brother 2024. Pretendo, depois, assistir as edições anteriores, irei buscar acompanhar cada participante na internet.

Ainda vou além, irei assistir os canais de fofocas, irei procurar as notícias de Nicolás Maduro, da guerra na Rússia e, se sobrar tempo, pesquisarei sobre a faixa de Gaza e a disputa territorial que se transformou num campo sanguinário. Acho que este é o caminho, estar desligado do mundo real e embarcar no mundo criado pela mídia.

É isso! Se o indivíduo se mostrar muito entendedor do sistema político, da linguagem padrão, das regras jurídicas e dominar os bons modos de sentar-se à mesa e de se vestir com bom gosto, corre o risco de ser isolado socialmente.

A moda agora é ouvir música brega, estar no ambiente das fofocas, investir o tempo em programas de auditórios e nos temas midiáticos. Se fizer isso, se estará muito mais confortável nesta sociedade atual.​

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

O Brasil contra Elon Musk

Próximo

Alimentos básicos podem ficar mais caros

Deixe seu comentário